sábado, 1 de outubro de 2011

JORNAL JOÃO SEMANA ENTREVISTA O AUTOR DO BLOGUE


António Mendes Pinto
Um artista inspirado em valores e na fé


TEXTO E FOTOS: Jornalista Fernando Pinto

António Mendes Pinto nasceu no Porto em 26 de maio de 1944 e veio para Ovar há 40 anos. Apaixonado pelo desenho, composição e montagem, tem participado em várias atividades da Paróquia, em especial na idealização de cartazes e painéis para a liturgia e catequese. Foi admitido na Ordem Franciscana Secular de Ovar em 1973, tendo sido Ministro nos Triénios de 1984/87, 1988/90 e 1991/93. Desde 1984 que escreve crónicas sobre as Procissões e outros artigos para os jornais da terra. Em setembro de 2010 fez a montagem da Exposição “Ovar em foco”, na Galeria do Centro de Arte, levada a cabo pela Liga dos Amigos do Hospital de Ovar, no 2.º Encontro Nacional de Voluntariado em Saúde. Para além das exposições que tem realizado, executou vários livros, como A Pesca no Furadouro 1800-1955, de José Oliveira Neves, editado pelo jornal “João Semana”, onde ambos são colaboradores. Tem alguns sítios na Internet, onde faz a divulgação dos eventos vareiros.

Jornal “João Semana” – Nasceu na cidade invicta mas é a de Ovar que traz no coração... Mas não veio logo viver para terras vareiras, pois não?

António Mendes Pinto – Eu nasci no Porto, mas com três anos de idade os meus pais radicaram-se em S. João da Madeira. Casei em Arrifana e depois fomos morar, em 1970, para Lisboa.

O que é que o levou a ir começar uma vida nova na capital?

Por que é que escolheu Ovar e não S. João da Madeira para trabalhar, já que essa cidade é considerada a capital do calçado?
Tirei um curso de Desenho de Construção Civil no serviço militar em Tancos, na Escola Prática de Engenharia, e lá conheci um camarada que era desenhador de profissão. Como ele trabalhava no J. Pimenta, disse-me que me arranjava uma colocação nessa empresa. E eu entusiasmei-me... A minha mulher ia grávida do meu primeiro filho. Mas como ele me disse, já em Lisboa, que eu ia receber menos do que ganhava na minha profissão de origem, que era de modelador e cortador de calçado, prescindi daquela oferta de emprego, entrei em contacto com uma fábrica de calçado de senhora em Benfica, e fui para lá trabalhar. Como a renda da casa era alta, aproveitei um biscato numa fábrica de calçado de bebé na Reboleira. Entretanto, tive um acidente de viação quando ia para o trabalho em Benfica, e pela primeira vez na minha vida fiquei sem emprego, eu que comecei a trabalhar aos onze anos de idade. Fiquei a conhecer Lisboa quando andava a responder aos anúncios dos jornais. Respondi a um que era de uma fábrica de malas na Amadora, e passei a conhecer o fabrico de malas de senhora. Entretanto, a irmã da minha mulher e o meu cunhado foram lá quando nasceu o nosso filho Lourenço, e conseguiram convencer-nos a voltar aqui para o Norte. As minhas duas filhas, Isabel e Ana, nasceram em Ovar. Uma em 1972 e a outra em 1978.

Viemos para Ovar porque esse meu cunhado era concessionário da Singer, em S. João da Madeira, e queria ajudar-me a abrir uma concessão em Ovar. Antes de vir aqui para a Habitovar morei na Ribeira, na Rua do Cruzeiro. Em 1971 tinha três empregados. Não podíamos ter mais, porque era uma indústria caseira. O meu cunhado arranjou vendedores para angariarem as encomendas através das coleções que eu criava. Como os viajantes vendiam para além das nossas capacidades de entrega, falei com o meu cunhado e fizemos uma sociedade. Mudámos de instalações, ali para os lados dos armazéns Malaquias, e concretizou--se a ideia do meu cunhado de ter uma loja com a concessão de máquinas de costura Singer. Nas traseiras ficava a fábrica de calçado. Isto em 1974, antes da revolução do 25 de abril. Depois veio o PREC, o Processo Revolucionário em Curso, a fase da descapitalização das pequenas e médias empresas, dos sindicatos, e o meu cunhado, com receio, saiu da sociedade. A partir daí as dificuldades foram aumentando e a fábrica teve que fechar por falta de financiamento.

Em Ovar é conhecido pelos cartazes e exposições que idealiza. De onde é que vem o seu gosto pelo desenho?

Já vem de há muito tempo, muito antes de andar na tropa... Sempre tive aptidão para o desenho. Andava eu na Ação Católica, na JOC, e já fazia cartazes. Ainda tenho guardados desenhos dos anos 60, de quando era mais novo, que já estiveram expostos na Junta de Freguesia de Ovar.

Tem feito alguns trabalhos para a Paróquia de Ovar... Lembra-se da altura em que começou a fazer cartazes?

Foi numa altura em que andava a acompanhar um grupo de jovens de S. João de Ovar e nesse grupo havia também elementos que estudavam artes, que tinham, como eu, o gosto pelo desenho. No tempo em que esteve cá o padre Bacelar, ele teve a feliz ideia de juntar os elementos do grupo de jovens de S. João e de S. Cristóvão de Ovar e formar uma equipa para elaborar cartazes chamada Cartequipa. E foi a partir de 1989 que comecei a fazer mais coisas...


Eram para as celebrações eucarísticas do domingo seguinte. Antes de fazermos o trabalho, o padre Bacelar reunia connosco, líamos a palavra de Deus, e os elementos da Cartequipa iam para casa pensar numa ideia para um cartaz. Entretanto, foi uma fase que também acabou. Em 2000, o Sr. padre Bastos falou-me em fazer umas coisas para a Igreja. O primeiro trabalho que fiz para a Paróquia, a nível de painéis e de exposições, foi quando a Igreja Matriz de Ovar foi restaurada, quando levantaram o soalho e descobriram as ossadas. Tiraram-se muitas fotografias durante os trabalhos das escavações e então o padre Bastos falou-me que seria interessante fazer uma exposição para a entrada da Igreja. Depois veio o Jubileu de 2000, do Milénio, e aí fiz um painel em acrílico a pedido também do Sr. abade, para pendurar cá fora na Igreja. Tudo isso está guardado em armários na Igreja Matriz e aqui em minha casa.
E para que é que serviam esses cartazes

Há alguns anos o padre Bastos sugeriu essa ideia, mas ainda não houve oportunidade... De vez em quando a responsável pela Catequese, Carolina Abreu, pede para fazer um cartaz para as celebrações especiais das crianças. Agora também utilizo o computador, porque nessa época era tudo manual. Eu fazia os moldes, cortava e colava, fazia as montagens, tudo...
Para quando uma exposição com esse material que está guardado?

Sim... A primeira vez que se fizeram dísticos foi na Procissão dos Terceiros, com reflexões e frases bíblicas escritas pelo Sr. António Poças, que andava a estudar, ainda não era diácono. Foi na altura em que eu tinha como vice-ministra da Ordem Terceira a professora Augusta Brito. Então, decidiu-se fazer 14 dísticos, um para cada andor. Eram os jovens que os levavam. Tive a colaboração do grupo de jovens de S. João de Ovar. Lembro-me que foi um trabalho em equipa, porque as letras tinham de ser cortadas e coladas em tela impermeável. Também fiz trabalhos para os Convívios Fraternos com esse grupo de jovens que era excecional, porque se entregava e estava sempre a fazer coisas... Eu e o Sr. Olímpio, atual sacristão da Paróquia, éramos os únicos que não eram da idade deles. Reuníamo-nos todos os domingos à noite, em oração, junto ao altar-mor da Capela de S. João de Ovar.
Nas Procissões também é frequente vermos alguns dos seus trabalhos gráficos...

Tem acompanhado e publicitado nos jornais da terra o percurso dos Pueri Cantores... De que modo?

O Grupo Coral Infantil e Juvenil S. Cristóvão fazia umas encenações muito interessantes da Paixão de Cristo, na Capela da Senhora da Graça. Fui vê-los, e comecei a passar para o público, através dos jornais, os espetáculos que eles faziam, os concertos de Páscoa e de Natal. Achava que o seu trabalho era tão louvável e de tal qualidade que merecia ser divulgado. Como as dirigentes, a maestrina Esmeralda Amaral e a D. Carolina, viam que eu escrevia para os jornais, convidaram-me para os acompanhar inclusive ao estrangeiro.

Tem um blogue dedicado a esse grupo coral da Paróquia. Como é que surgiu essa ideia?

Na véspera da viagem à Suécia, as dirigentes do grupo pediram-me para que eu lhes fizesse um sítio na Internet. Com a ajuda de um amigo que me ensinou a construir blogues, fiz o Franciscanismovar, dedicado à Ordem Franciscana Secular de Ovar, e logo quase em simultâneo criei um para eles, para que todo o mundo pudesse ver aquilo que eles fazem de bom. Tenho feito esse trabalho com muito gosto... Mesmo não estando presente nos concertos no estrangeiro, havendo fotografias e dizendo-me aquilo que se passou, dou a informação através do blogue, como foi o caso da ida do Coro a Roma. Mas tenho outros blogues. No endereço http://franciscanismovar.blogspot.com podem conhecer os meus sítios na Internet.

Fernando Pinto

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